Segundo o diretor de pesquisa do Instituto Igarapé, Robert Muggah, essa normalização acontece porque a violência faz parte do cotidiano dessas pessoas
Na creche comunitária onde Carla Rodrigues Peres, 37, trabalha, é comum ver crianças de três anos brincando de tiroteio. Os amigos de sua filha Lara, 16, acham normal que datas importantes sejam comemoradas com tiros para o alto. aqui
Tal normalização da violência não acontece apenas na cidade onde mora a família Peres, em Nova Iguaçu, região metropolitana do Rio. Um estudo lançado nesta segunda (26) pelo centro de pesquisa Instituto Igarapé e a ONG humanitária Visão Mundial indica que essa é a tendência entre crianças que vivem em regiões de baixa renda. A pesquisa ouviu 1.400 crianças e adolescentes de 8 a 17 anos de 12 cidades brasileiras com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). 40% delas já tiveram que interromper aulas por causa de um tiroteio. 63% dizem que apanham em casa. Apesar disso, apenas 1% dizem se sentir muito inseguros.
Segundo o diretor de pesquisa do Instituto Igarapé, Robert Muggah, essa normalização acontece porque a violência faz parte do cotidiano dessas pessoas. Ela está no dia a dia, nos noticiários e nas redes sociais. O Brasil é o 2º país no mundo com o maior número de homicídios contra adolescentes. Segundo dados da Unicef, a cada dia, 28 crianças e adolescentes morrem no país devido a situações de violência. A importância de perceber que a violência não é normal, dizem os pesquisadores, é evitar que o ciclo se perpetue e que quem a comete fique impune.
Há pesquisas que mostram que pessoas expostas a estresse constantemente têm seus cérebros transformados quimicamente. Essas mudanças geram uma espécie de vício em situações de estresse. E assim a violência se perpetua.
As consequências da exposição constante de crianças à violência são várias, dizem os pesquisadores: reprodução da violência, dificuldade de estudar, problemas de saúde ligados ao estresse. “Há pesquisas que mostram que pessoas expostas a estresse constantemente têm seus cérebros transformados quimicamente. Essas mudanças geram uma espécie de vício em situações de estresse. E assim a violência se perpetua.” Também chama a atenção na pesquisa o fato de que uma minoria (40%) respondeu que sempre se sente protegido pela polícia.
Para Muggah, isso se explica pelo fato de o Brasil ter uma polícia que ele considera agressiva. O timing do lançamento da pesquisa, a uma semana das eleições municipais, não é arbitrário, diz o diretor nacional da Visal Mundial, João Diniz. “Pesquisas internacionais indicam que investir na primeira infância é a melhor forma de reduzir a violência. Mas crianças não votam. Por isso é preciso pressionar para que a agenda política de um município tenha a criança como prioridade. Criança é um problema de todas as secretarias.”
(Via Agencia)