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Suposto estuprador e vitíma trocam acusações nas redes sociais

Enquanto a Polícia Civil investiga denúncia de estupro em festa de réveillon no Setor de Clubes Norte, uma batalha na opinião pública é travada entre acusadora e acusado. A história veio a público em relato da jovem de 24 anos, publicada pelo Facebook no primeiro dia do ano, com imagens de laudos e detalhes da agressão que a moça teria sofrido no estacionamento do evento.

O suposto algoz, o segurança Wellington Monteiro Cardoso, deu a versão sobre o caso pela primeira vez, em entrevista ao Correio, um dia depois. “A carne é fraca. Mas foi tudo consentido”, afirmou. Agora, os dois têm se manifestado pelo Facebook. Quando a estudante da Universidade de Brasília (UnB) contou os detalhes da agressão, Wellington tirou do ar o perfil que mantinha na rede social. Há dois dias, no entanto, ele reativou a página. E tem se concentrado em textos relacionados à sua defesa. “Peço perdão aos meus amigos, que sempre confiaram em mim. E peço perdão, principalmente a Deus, Senhor de todo o universo, e que sabe de toda a verdade e meu arrependimento”, escreveu, na noite de terça-feira. Uma navegada pelo perfil dá algumas pistas sobre seus gostos e ídolos. A primeira postagem é uma foto da mulher do segurança, Elizângela dos Santos Monteiro, 32 anos, que aparece abraçada a flores em formato de coração, com um comentário de Wellington: “Bem casado”. Nas postagens seguintes, Wellington compartilha vídeos que considera interessantes, como um em que um lutador de MMA mexe com uma mulher comprometida e dá uma surra no namorado da moça. O segurança mostra que é fã de MMA, da contora Janis Joplin e do humorista Danilo Gentili. O cantor de música gospel americana Byron Cage é apontado como “top”. Em outra publicação, ele posta o vídeo em que o ex-governador José Roberto Arruda aparece recebendo dinheiro das mãos de Durval Barbosa, que deu origem à Operação Caixa de Pandora. Entre os políticos que parece admirar estão o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Marco Feliciano (PSC-SP). Com Bolsonaro, existe uma interação maior. Há uma compilação de entrevistas em que o parlamentar do Rio de Janeiro defende a pena de morte, critica parlamentares do PSol e ironiza direitos humanos. Na página da jovem que o denuncia, também aparecem demonstrações de preferências e posições políticas. A deputada federal Érika Kokay (PT-DF) figura em dois vídeos. Num deles, a petista critica Bolsonaro, por supostamente ter feito apologia a estupro, num embate na Câmara dos Deputados com a deputada Maria do Rosário (PT-RS). Ontem, a jovem divulgou uma gravação em que Kokay presta solidariedade pelo ocorrido na noite do réveillon. “Estupro? Na festa de ano-novo em Brasília repete a lógica fascista de que a vítima é transformada em algoz e o algoz em vítima”, diz a deputada federal. “Nós não podemos permitir que exista essa relação de impunidade. À jovem que foi estuprada em festa na Asa Norte, nós prestamos toda a nossa solidariedade, vá em frente com toda a sua coragem!”, acrescenta, no vídeo. Na noite de ontem, a estudante da UnB postou outra mensagem: “Meu estuprador não sabe que é estuprador. Vocês ensinaram que a culpa não foi dele”. Wellington cresceu no Setor M Norte, onde conheceu a mulher, Elizângela dos Santos Monteiro, 32. Ambos eram adolescentes quando começaram a namorar. Ela tinha 15; ele, 16. Três anos depois, se casaram. Em Taguatinga, estudou no Centro Educacional Ave Branca. Na terça-feira, em entrevista ao Correio, ela saiu em defesa do marido. “Ele preza muito pelo cuidado do outro; por isso que eu falo tanto que eu tenho certeza de que ele não cometeu o que o estão acusando”, disse. O casal tem dois filhos: uma menina de 9 anos e um menino de 5 meses. O segurança serviu na Força Aérea Brasileira (FAB) por quatro anos. De fevereiro de 2001 a janeiro de 2005, atuou como soldado de segunda classe. A função é temporária e, a cada seis meses, pode ser renovada. No caso de Wellington, o desligamento se deu em razão da conclusão do tempo de serviço máximo estabelecido pela Lei do Serviço Militar. Depois disso, Wellington decidiu seguir carreira na área da segurança privada. Fez quatro cursos de treinamento e, há 12 anos, abriu uma empresa do ramo, a Ello Serviços Especializados. Quatro anos após a criação da firma, passou a contar com a ajuda de Elizângela — brigadista e técnica em enfermagem — na prestação do serviço em eventos. No entanto, a Ello, responsável pela segurança na festa de réveillon, atua na clandestinidade. A companhia de vigilância não tem habilitação obrigatória da Polícia Federal. Além disso, Wellington deveria passar por uma reciclagem exigida pela corporação — um curso de um mês deve ser feito a cada dois anos —, mas não se atualiza há anos.

O advogado Max Kolbe assumiu a defesa de Wellington Monteiro Cardoso na última terça-feira. “Para mim, trata-se de crime inexistente, pois o ato foi consentido por ambas as partes, de forma lúcida. Todo mundo estava bem ciente do que estava fazendo”, defende. aqui

Questionado sobre a suposição de que o segurança poderia ter tirado proveito da situação de vulnerabilidade da jovem, Kolbe defende que o laudo do Instituto de Medicina Legal (IML) da Polícia Civil do Distrito Federal apontará se ela realmente estava alcoolizada. “Isso estará no exame, porque demora muito tempo para o álcool sair do corpo”, pondera. Laudo preliminar confirma a relação sexual entre vítima e acusado, mas não identifica sinais de violência. Segundo policiais envolvidos na investigação, isso não significa que não houve crime porque se a jovem estava alcoolizada e não reagiu, o dado mais importante é confirmar se ela estava em condições de vulnerabilidade. A Divisão de Comunicação da Polícia Civil (Divicom) informou, por meio de nota, que “o caso está sendo apurado pela Deam e somente no momento oportuno, de forma a não atrapalhar as investigações em curso, a delegacia irá se manifestar”.

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