Uma espécie de consórcio informal de empresas dirigidas por amigos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva bancou obras no sítio frequentado pela família do petista em Atibaia (SP), segundo testemunhas ouvidas pela Folha e depoimentos colhidos pelo Ministério Público de São Paulo. aqui
Os trabalhos na propriedade foram iniciados em outubro de 2010, quando Lula ainda estava na Presidência, posto que ocupou até o final daquele ano.
Pelo menos três empresas teriam participado das reformas no imóvel, de acordo com esses relatos: a Usina São Fernando, do pecuarista e amigo do ex-presidente José Carlos Bumlai, além de Odebrecht e OAS.
As três são investigados pela Operação Lava Jato. Bumlai está preso desde novembro e já confessou ter feito um empréstimo de R$ 12 milhões junto ao Banco Schahin que foi repassado ao PT. O valor nunca foi pago, mas o grupo Schahin foi recompensado com um contrato de R$ 1,6 bilhão na Petrobras.
O ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, também está preso, sob acusação de envolvimento no esquema de corrupção na estatal. Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS e amigo de Lula, foi condenado pelo juiz federal Sergio Moro a 16 anos de prisão, mas está recorrendo em liberdade.
A Usina São Fernando, que formalmente é de propriedade dos filhos de Bumlai, contratou os serviços do arquiteto Igenes dos Santos Irigaray Neto para as obras iniciais no sítio, segundo a Folha apurou com pessoas próximas ao pecuarista.
Essa versão é corroborada pelo testemunho de profissionais que participaram da reforma em depoimentos ao Ministério Público paulista.
Ainda de acordo com os relatos feitos à Promotoria, a empresa de Bumlai também bancou a mão de obra para a montagem da estrutura de uma casa anexa à sede do sítio, com quatro suítes, a um custo de cerca de R$ 40 mil.
Na semana passada, Patrícia Fabiana Melo Nunes, 34, ex-dona de uma loja de material de construção que forneceu produtos para a obra, afirmou à Folhaque a Odebrecht realizou a maior parte da reforma, na qual foram gastos cerca de R$ 500 mil só em materiais.
O engenheiro Frederico Barbosa, que trabalha na empreiteira, confirmou ter atuado na obra. Disse ter ajudado na reforma em seu período de férias, sem cobrar nada, para ajudar um amigo.
ACELERAR
O arquiteto que iniciou a obra, Irigaray Neto, vive em Dourados (MS), a mesma cidade onde Bumlai tem residência, e já fez trabalhos para a Usina São Fernando e até uma escola batizada com o nome da mãe do pecuarista.
O sítio, com 173 mil metros quadrados, está registrado em nome de Jonas Leite Suassuna Filho e Fernando Bittar, sócios de Fábio Luís, filho de Lula. O ex-presidente e sua família são frequentadores do local.
Procuradores da Lava Jato e promotores de São Paulo investigam se as obras no sítio não seriam uma forma de beneficiar ilicitamente Lula. Nesta semana, membros da Lava Jato estiveram em Atibaia ouvindo vizinhos e comerciantes, depois que a Folha revelou na última sexta (29) que a Odebrecht teria pago a maior parte da reforma.
Profissionais que atuaram nas obras contam que os trabalhos começaram em outubro de 2010 com uma empresa de pequeno porte contratada pelo arquiteto.
Como o ritmo dos trabalhos andava muito lento, Marisa Letícia, a mulher de Lula, teria dito que iria chamar “uma empresa de verdade” para acelerar a reforma, segundo a Folha apurou. Tal empresa teria sido a Odebrecht, ainda de acordo com profissionais que trabalharam na obra. A empreiteira nega ter feito qualquer trabalho no sítio.
Além disso, uma parte dos serviços foi realizada pela empreiteira OAS, segundo relato de profissionais próximos da empresa, ouvidos pela Folha. A empreiteira cuidou da contenção do lago da propriedade e do escoramento do telhado da sede, que ameaçava ruir.
OUTRO LADO
O Instituto Lula não quis comentar os relatos sobre as empresas que atuaram na obra em Atibaia.
A OAS e o advogado de José Carlos Bumlai, Arnaldo Malheiros Filho, também não quiseram se pronunciar sobre a reforma no sítio frequentado por familiares de Lula.
A Construtora Norberto Odebrecht informou por meio de nota que “não realizou qualquer obra no referido imóvel”.
Já o engenheiro Frederico Barbosa disse, também por meio de nota, que trabalhou na obra em Atibaia não na condição de engenheiro da Odebrecht, mas em caráter particular: “Fui procurado por um amigo que havia sido contratado para realizar a reforma e, na qualidade de engenheiro civil, o apoiei esporadicamente durante meu período de recesso”.
(Via Folha e agência)