Ao sair candidato a deputado federal tanto em 2010 quanto em 2014, Prado registrou em cartório compromisso de que não votaria a favor de criação e aumento de impostos nem apoiaria matérias contra servidores, trabalhadores e aposentados. Ele ainda é a favor da redução da maioridade penal em casos de crime contra a vida. Ele e o PT têm estado em campos opostos em todas essas matérias. aqui
O PT tem perdido quadros. Este ano, deixaram a sigla aproximadamente 20% dos prefeitos que ela elegeu em 2012 em São Paulo e que ainda estavam, até o início deste ano, no partido.
Em maio, Prado foi o único deputado do PT que votou contra a medida provisória que restringiu o acesso ao seguro-desemprego. A bancada tinha fechado questão a favor. Ele também questiona os números do Planejamento para justificar o veto ao reajuste de 56% para o Judiciário:
— Há tentativa de desgastar os servidores com a população diante do momento difícil do país.
Ele diz que, em retaliação, foi retirado pelo PT das comissões da Câmara das quais fazia parte e excluído do grupo de mensagens da bancada. No plenário, Weliton Prado tem sentado separado dos deputados do PT.
No Senado, o PT tenta segurar os descontentes. No caso de Walter Pinheiro, o partido acenou com a candidatura à prefeitura de Salvador no ano que vem.
— Eu e Delcídio (Amaral) temos conversado com eles (Pinheiro e Paim). Não consideramos que estão fora. Há cogitação de ele (Pinheiro) ser nosso candidato à prefeitura de Salvador — disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), citando o líder do governo Delcídio Amaral (PT-MS).
Pinheiro negou, em nota, intenção de disputar a prefeitura. “O senador Walter Pinheiro comunicou ao diretório municipal do Partido dos Trabalhadores que recebeu com surpresa a indicação de seu nome como pré-candidato para concorrer à prefeitura de Salvador, no pleito eleitoral de 2016. No comunicado, o senador diz que fica honrado, mas declina da indicação pois, no momento, sua prioridade é cumprir a missão que o povo da Bahia lhe conferiu no Senado”, afirma o documento.
Pinheiro, que tem discordado da condução da política econômica pelo ministro Joaquim Levy (Fazenda), não tem participado das reuniões da bancada do PT no Senado nem de atividades do partido, assim como de encontros com Dilma.
Desde o início do ano, Pinheiro diz que não fará movimentos antes de acabar o prazo de mudança de partido para quem quer disputar eleições municipais. Atualmente esse prazo é de um ano, ou seja, até o fim deste mês, mas a Câmara diminuiu o período para seis meses na reforma política aprovada na última semana. Se essa proposta for sancionada por Dilma, já valerá para as eleições do ano que vem. Pinheiro alega não querer parecer oportunista ou movido por pretensões eleitorais, como a senadora Marta Suplicy (SP), que deixou o PT por não ter espaço para disputar a prefeitura de São Paulo. O senador, no entanto, não quer falar sobre esse assunto:
— Não é minha pauta, minha pauta é pacto federativo, minha pauta é discutir uma saída para o Brasil, não para mim. Isso eu vejo depois.
Outro insatisfeito é o senador Paulo Paim, que também votou contra o ajuste fiscal. Após tentar convencer, sem sucesso, senadores independentes a criarem um novo partido, Paim já participou de reunião da bancada do PSB e visitou a sede do partido para conversar com dirigentes. Ele também tem conversado com a Rede, o PCdoB e o PDT.
— Eu me dei prazo até o fim do ano. O problema de fundo é a atual política econômica, que esqueceu nossas raízes e vai na contramão de nossa História. E também erros cometidos em relação à crise econômica, política, social e moral, como a desvirtuação das pessoas, ferindo a ética. Nós viemos para fazer a diferença — disse Paim.
Vice-presidente do PSB, Beto Albuquerque diz que o partido está de portas abertas tanto para Pinheiro quanto para Paim, com quem as conversas estão mais adiantadas:
— Tivemos várias conversas com o Paim. O PSB gaúcho está de portas abertas para ele, seja qual for o projeto dele para 2018. Ele é bem-vindo, tem trajetória, história. O tempo da decisão é dele.
A última debandada do PT por motivação ideológica foi em 2003, por causa da reforma da Previdência feita pelo então presidente Lula. Mas, daquela vez, os parlamentares foram expulsos por discordarem da orientação partidária e fundaram o PSOL. Eram eles a então senadora Heloísa Helena (AL) e os deputados Luciana Genro (RS), Babá (PA) e João Fontes (SE). Chico Alencar (RJ) também deixou a sigla na época.
Entre os petistas que ficam, há constrangimento com os rumos do governo e com a necessidade de votar contra bandeiras do partido.
— Fazemos um esforço enorme para manter um mínimo de coerência com nossa história de vida. Às vezes, rachamos com o governo, como no fator previdenciário — disse o deputado Vicentinho (PT-SP), no lançamento da agenda legislativa da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
(Press)