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DANÇA DOS FAMOSOS: 'A pose é forçada, as dores no corpo não'

A regra é clara. Para participar do “Dança dos Famosos” não precisa saber dançar, mas é imprescindível preencher um requisito mínimo: ser famoso. Com zero novelas no currículo, nenhum talento musical e habilidades esportivas pífias, a probabilidade de entrar na 13ª temporada do quadro do “Domingão do Faustão” era mais ou menos nunca. Exceto se –talvez por Mercúrio não estar mais retrógrado (ou porque sou jornalista do UOL)– a Globo me chamasse para ir ao Rio de Janeiro viver essa experiência. Infelizmente, a vida não é perfeita e só me permitiram um dia nos ensaios. Lá eu aprendi que o tapa-bunda é uma realidade, que MC Bola te deixa ousada e atrevida e, o mais importante de tudo, que é totalmente possível fazer coreografias elaboradas mesmo sendo zero à esquerda na dança. aqui

Já no Projac, eu estava determinada a descobrir que tudo no “Dança dos Famosos” é fake. Meia dúzia de celebridades que nunca fizeram um passinho na vida frequentam aulinhas com profissionais e, do mais absoluto nada, conseguem executar pegadas nível Patrick Swayze e Jennifer Grey em “Dirty Dancing”? Óbvio que tinha algum truque de TV escondido. Minha desconfiança só cresceu quando recebi as primeiras orientações do Aldo Picini, um dos diretores do quadro: “Primeiro você vai para o figurino, depois maquiagem e cabelo”. “Isso aqui é tudo mentira”, pensei.

Na sala dos figurinos, onde várias leggings coloridas e maneiríssimas foram colocadas à minha disposição, perguntei para dona Adelina, a camareira do “Dança dos Famosos”, se precisava mesmo de tudo aquilo. Afinal, era só um ensaio. “Meu amor, não é porque você vai suar que não precisa ficar bonita na televisão”, ela respondeu. Preferi usar uma legging minha mesmo, mas aceitei a camiseta com logo do quadro e polainas. “Deixa eu ver se precisa de um tapa-bunda?”, perguntou dona Adelina. “Um o quê?”, devolvi. “Tapa-bunda, as meninas usam para tapar a bunda, sabe?”, esclareceu. “Ah, claro”, menti, com a serenidade no olhar de quem finge que concorda que o certo é biscoito, não bolacha. E aí alguém da produção avisou que o ritmo da semana era funk. Dispensamos definitivamente o tal do tapa-bunda, afinal não era sexta-feira, mas era dia de maldade.

Na sala dos figurinos, onde várias leggings coloridas e maneiríssimas foram colocadas à minha disposição, perguntei para dona Adelina, a camareira do “Dança dos Famosos”, se precisava mesmo de tudo aquilo. Afinal, era só um ensaio. “Meu amor, não é porque você vai suar que não precisa ficar bonita na televisão”, ela respondeu. Preferi usar uma legging minha mesmo, mas aceitei a camiseta com logo do quadro e polainas.

Depois de fazer cabelo e maquiagem, fui conhecer meu coreógrafo. Agora posso dizer por aí que tenho algo em comum com Paolla Oliveira, Sthephany Brito, Juliana Didone, Agatha Moreira e Carol Castro, atrizes que também já dançaram com Leandro Azevedo. Além de talentoso e rei da paciência, ele também é bicampeão do “Dança dos Famosos”. De tanto arrasar na competição, Leandro foi promovido a assistente de coreografia do quadro. Quando não está ensinando funk para repórteres desengonçadas, ele é o responsável por ajudar os concorrentes a melhorarem as apresentações.

A casa-estúdio onde acontecem os ensaios é toda equipada com microfones e câmeras no melhor estilo “BBB”. Do switcher, o diretor Henrique Mathias e sua equipe acompanham a evolução dos dançarinos durante os ensaios, que acontecem de terça a sábado em três salas instaladas no Projac. Além de mim, Rainer Cadete, Sophia Abrahão, Solange Couto, Letícia Lima e Nego do Borel também ensaiavam naquele dia. Tudo é gravado, então se você erra um passo ou quer conferir se aquela pegada mirabolante está funcionando visualmente é só pedir para a produção que eles mostram as imagens na tela.

Abrimos os trabalhos treinando passinhos de funk bem básicos –o Leandro queria verificar minha habilidade. Aparentemente satisfeito com meu desempenho no “dois pra lá, dois pra cá, rebola e gira”, ele resolveu seguir logo para a coreografia e me apresentou a música “Soltinha”, do Dennis DJ com Mr Catra e MC Bola, que tem o convidativo verso: “Ela vai no chão/ Ela vem dançar para mim/ Ela fica me olhando e rebolando gostosinho/ Ao som do batidão, que delícia vem e vai/ É ousada e atrevida, ela tira a minha paz”. A produção musical do “Dança dos Famosos” é feita por Wilson Simoninha e Jair Oliveira. São eles que sugerem as canções que os participantes vão dançar. E, para ser justo com todo mundo, todas as músicas têm que ter uma batida semelhante.

O trabalho do coreógrafo começa bem antes do ensaio. Ele já chega com o esqueleto da dança pronto, mas vai adaptando de acordo com a evolução do participante. Quando o Leandro, por exemplo, percebeu que eu não tinha condições de fazer um quadradinho de oito sem morrer de rir, ele mudou para uma reboladinha bem mais executável. Ele também me falou da importância da encenação. “Nunca gosto de só passar os passos, acho que fica melhor se a gente conta uma história com a coreografia”, explicou. Pode até parecer papo de dançarino, mas isso faz toda a diferença na hora do ensaio. Era muito mais fácil acertar a sequência quando o Leandro ia narrando: “E chegou no baile funk, desceu até o chão, passou por mim, nem deu bola, fui atrás, agora tá ousada e atrevida e parou”.

Com uma hora de ensaio, corria tudo bem e eu já conseguia acertar boa parte dos passos sem tropeçar, até que o Leandro perguntou se eu já tinha visto o mundo invertido. Achei estranho ele querer puxar papo sobre “Stranger Things” naquele momento, até que ele segurou minhas mãos e parou numa posição de quadrilha de festa junina. “Tá pronta?”, perguntou. Antes que eu pudesse responder, ele me deu um impulso que me fez girar de cabeça para baixo. Soltei um grito tão alto que devem ter achado que era gravação de “Supermax”.

Eu mal sabia, mas tinha acabado de executar uma “pegada”. Essas acrobacias são sem dúvida a parte mais difícil do “Dança dos Famosos”. Fazer o movimento, de fato, não é o mais complicado, o problema é conseguir se lembrar da coreografia que vem depois. Outra dificuldade é que, enquanto você está no ar, precisa olhar para frente, abrir os olhos, sorrir e deixar pernas e pés bem esticadinhos. É desesperador. “Nos primeiros dias todo mundo quer desistir, mas depois eles até pedem mais”, garantiu Leandro.

Quando eu finalmente estava me sentindo “soltinha que nem arroz”, para usar um termo do funk, fomos informados que meu tempo tinha acabado, e Rainer Cadete, competidor de verdade do “Dança dos Famosos”, precisava ensaiar. Falhei completamente na missão de descobrir que tudo era fake. É tudo verdade, e as dores que fiquei sentindo pelo corpo todo por vários dias depois da visita não me deixam mentir.

(Via Agencia)

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