Quando Ana Lemes Drittrich optou por se mudar para a Alemanha e se especializar em banhos de floresta, sua vida tomou um novo rumo. Com formação em engenharia florestal, essa condutora da terapia natural decidiu explorar uma conexão mais profunda com a natureza, visando reintegrar os seres humanos aos biomas naturais. Essa técnica está inserida em um conjunto de atividades conhecidas como ecoterapia, que engloba não apenas os banhos de floresta, mas também outras formas de terapia, como a xamânica, aventura, assistida por animais e hortoterapia.
Os relatos sobre o poder transformador da natureza não são novidade. O que está surgindo como inovador é o campo em expansão da neurociência ambiental, que busca compreender por que e como nossos cérebros são tão profundamente influenciados pela presença da natureza.
Você provavelmente já ouviu falar de estudos que mostram que ambientes verdes (com vegetação) e azuis (com água em movimento) estão ligados à redução do estresse, melhoria do humor, aumento das emoções positivas e diminuição da ansiedade e da ruminação.
No entanto, há uma crescente evidência de que a exposição à natureza também traz benefícios para a função cognitiva – todos os processos envolvidos na aquisição de conhecimento e compreensão, incluindo percepção, memória, raciocínio, julgamento, imaginação e resolução de problemas.
Por que a natureza é tão importante?
Dar um passeio ao ar livre, desconectado das tecnologias digitais, ou simplesmente estar em contato com a natureza, como em um parque, à beira de um rio ou do mar, pode trazer uma série de benefícios positivos para o corpo. Até mesmo o simples ato de cuidar de plantas em casa pode melhorar a saúde mental. De acordo com a hipótese da biofilia, proposta pelo sociobiólogo americano E.O. Wilson, os seres humanos tendem a se sair melhor em ambientes naturais, pois nossos cérebros e corpos evoluíram em interação constante com a natureza.
Ainda mais interessante é que algumas pesquisas sugerem que ambientes considerados de “alta qualidade” são ainda mais benéficos. Lugares com grande diversidade e abundância de espécies de aves e árvores parecem reduzir a ansiedade e melhorar o humor, em comparação com áreas menos ricas em biodiversidade. Isso é particularmente positivo para o Brasil, que possui não só uma vasta extensão costeira, mas também uma variedade de biomas com uma das maiores diversidades biológicas do mundo, incluindo o Cerrado, a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica.
Ecoterapia: como a cura ao ar livre contribui para a saúde mental?
Ana Lemes Dittrich é graduada em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e possui um mestrado em Ciências Florestais e Ecologia Florestal pela Georg-August-Universität Göttingen. Apesar de sua formação acadêmica, Ana optou por seguir um caminho menos convencional em sua profissão. Em 2014, ela se deparou com o conceito de “banho de floresta” e logo se envolveu com a Academia Alemã de Banhos de Floresta e Saúde, onde obteve certificação como condutora. Além disso, é especialista pela Internacional Ecopsychology Society e pelo Instituto Brasileiro de Ecopsicologia em Ecotuning.
Mas o que distingue as terapias na natureza de um simples passeio no parque ou uma viagem à praia com amigos? É o foco. “No banho de floresta, como guia, meu papel é orientar as pessoas a se concentrarem no ambiente ao seu redor. Elas são incentivadas a observar a casca de uma árvore de uma maneira diferente, a sentir a luz solar, a cheirar os aromas e, em alguns casos, até mesmo provar elementos naturais”, explica Ana Lemes, que mais adiante detalha o funcionamento dessa terapia natural.
Banhos de floresta
O banho de floresta, também conhecido como forest bathing, é uma prática originária do Japão que agora se espalha por diversos países. Chamado também de shinrin-yoku ou silvoterapia, essa abordagem visa envolver os participantes na atmosfera da floresta, buscando uma reconexão com o ambiente natural. O objetivo é proporcionar uma experiência multissensorial, onde os participantes são convidados a observar os sons e aromas da natureza em um momento de profunda conexão com o meio ambiente.
Para perceber os efeitos da prática, é recomendado realizar uma análise do corpo antes e depois do banho de floresta. “Depois de 25 minutos de terapia guiada, o turbilhão de pensamentos no cérebro desaparece”, explica a condutora.
No entanto, é fundamental realizar essa prática com um profissional certificado. “Estou lidando com pessoas e sou responsável por elas. Tenho total responsabilidade pelo grupo que estou guiando. Para isso, é necessário ter uma formação qualificada”, ressalta.
O principal objetivo do banho de floresta é desconectar-se dos pensamentos externos e reconectar-se com o mundo interno. “Quando vejo meus participantes bocejando, penso: bingo! Alcancei meu objetivo”, diz Ana.Para ela, além de realizar a prática com um profissional, é possível se propor a fazer diferentes atividades que, embora não tenham o mesmo efeito, podem acalmar a mente, como:
- Explore avenidas movimentadas e arborizadas da sua cidade, especialmente em dias tranquilos como os domingos.
- Visite um parque, de preferência sozinho, e passe um tempo observando a natureza ao seu redor.
- Dê um passeio tranquilo ao redor de um lago e observe o movimento dos animais que ali habitam.
- Dedique um tempo para observar os detalhes da natureza, como árvores, pequenos animais e os diferentes aromas do ambiente.
Terapia xamânica
A terapia xamânica reúne um conjunto de técnicas psíquicas e energéticas ancestrais, projetadas para conduzir o indivíduo a um estado natural de harmonia, felicidade e poder pessoal. Com uma história que remonta a cerca de 40.000 anos, o xamanismo representa uma tradição antiga de cura, envolvendo a conexão com a vida por meio de ferramentas como tambor, chocalho, canções, palavras, penas, cristais e incensos sagrados. Além disso, a terapia xamânica busca resgatar partes perdidas ou esquecidas de nós mesmos, visando promover a totalidade do ser.
Ao acessar o poder interno, os praticantes da terapia xamânica são capacitados a fazer escolhas mais conscientes e a trilhar os melhores caminhos na vida. Assim, essa prática milenar oferece um caminho abrangente para a cura, equilibrando aspectos físicos, emocionais e espirituais.
Terapia de aventura
A terapia de aventura é uma abordagem que utiliza desafios físicos ao ar livre para promover o crescimento pessoal, o desenvolvimento de habilidades sociais e a saúde mental. Os programas, que podem durar de uma a três semanas, incentivam a cooperação e o desenvolvimento interpessoal, proporcionando uma experiência terapêutica adaptável a diferentes contextos.
Essa modalidade abrange uma variedade de atividades, como percursos de cordas altas e baixas, escalada, rapel, rafting, caminhadas e acampamentos. O objetivo é criar situações desafiadoras que exijam cooperação, comunicação eficaz, resolução de problemas e o desenvolvimento de habilidades interpessoais. Portanto, o ambiente ao ar livre oferece uma plataforma única para enfrentar medos, construir confiança e promover a autoestima.
Terapia assistida por animais
A Terapia Assistida por Animais (TAA) é uma abordagem terapêutica que integra a interação entre seres humanos e animais para promover melhorias físicas, emocionais e sociais. Por meio do uso de animais treinados, como cães e cavalos, a TAA tem como objetivo reduzir o estresse, a ansiedade e a solidão, ao mesmo tempo que estimula a comunicação e oferece apoio emocional. Aplicada em uma variedade de contextos, desde o tratamento de distúrbios mentais até a reabilitação física, a presença afetuosa dos animais facilita a expressão emocional, promovendo assim a saúde mental e emocional.
Hortoterapia
A hortoterapia, também conhecida como terapia de jardim, é uma abordagem terapêutica que emprega atividades ligadas à jardinagem para proporcionar benefícios físicos, emocionais e mentais. Essa prática reconhece o poder terapêutico do contato com a natureza e oferece vantagens como a redução do estresse, a melhoria da saúde mental e física, além do desenvolvimento de habilidades práticas. Utilizando a jardinagem como instrumento, a hortoterapia visa promover o equilíbrio e a saúde integral.